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Sentada, no círculo, uma mulher entre outras

Em círculo, sento-me. Uma mulher sou, entre todas as outras que ali se sentam. O chão chama-me, como outrora me chamou a Mãe Terra. Ali estou prostrada, humilde, no chão. É a humildade com que estou presente e me apresento que me permite ser Fonte e resgatar a minha essência.


A minha essência é um eco interno e único que me permite ser o bicho que sou e o seu uivo, o corpo em que ela habita, tudo o que aqui vim expressar e que é único, porque fala de mim e de mais ninguém. Apesar de o que sou também serem os outros e os outros, eu.


E cada uma, no círculo, escuta as minhas falas. Quando falo sinto o meu sexo ligado à terra, às raízes. O que falo brota das minhas entranhas, do meu ventre, do meu útero, do mais sagrado em mim. Se me abrir não me vão matar como no passado, se falar não me vão queimar viva numa fogueira, se eu brilhar não me vão invejar pois também elas irão ver a sua própria luz durante esse dia.


Cada uma é uma vela, uma fogueira, uma centelha viva. Com cada mulher que se abre, acolho. Sou uma vaso, um graal, um espaço vazio que acolhe. Acolho cada uma nua de artifícios e máscaras, tal e qual se permite ser. Despidas de máscaras, artifícios e fantasias somos feitas de terra, de argila, de sangue, de dor e de sonho. Quando me sento em círculo sei que sempre ali estive desde que há tempo e história.


E a xamã ri em mim. A curandeira ri em mim. A bruxa ri em mim. A Deusa ri em mim. E riem de mim. E eu rio de mim também.


“Já era tempo de chegares aqui, oh mulher! Já era tempo. Já tardavas. Por onde andaste tão perdida? Por que caminhos andaste tu? Perdida estavas. Mascarada. Cheia de adereços. Num faz de conta em que só a ti iludias.


É aqui o teu lugar!. Aqui a tua voz ressoa na totalidade certa que é a da verdade. Em mais nenhum lugar te poderíamos deixar mais falar. Porque eram lugares que não te pertenciam e a que não pertencias. Fala aqui e muitos serão os que te escutam. E terás cumprido o que vieste contar. Para poderes, depois, repousar sem medo".




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