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Escutar o teu corpo

Um dia destes, naqueles dias pouco simpáticos em que se vai a um sítio e nos fazem mamografias, eco mamárias e eco vaginais em pack, a médica que me calhou seguiu os procedimentos. De facto, não aconteceu "nada de especial" pois estamos habituados a que assim seja quando vamos fazer exames.


O corpo tornou-se um objeto para a maior parte destes técnicos.

Uns braços que se atiram para cima, uma folha de papel que se atira para cima do corpo para limpar o gel, o silêncio habitual ou as perguntas escusadas. A forma como a médica me atirou um braço para cima para chegar à minha mama ou a forma como percorria o meu território com as sondas fez com que me sentisse um objeto, um número, algo sem valor. É um corpo, senhora. Caramba!

Ao tocar assim o corpo de uma mulher está a desrespeitar o meu corpo, o seu corpo e a sua condição de mulher! Nestas situações lembro-me logo de tantos episódios médicos e bem sei que há médicos que de todo não se encaixam neste modelo de interacção com o paciente.


O corpo é a nossa condição sine quo non de vida por aqui. Sem ele somos espíritos, anjos, guias ou formas de energia sem materialização.


Honrá-lo é honrar esta nossa vida por aqui, esta encarnação, esta oportunidade de fazermos melhor, de evolução da nossa alma, de transmutarmos o que ainda há a transmutar. Um corpo necessita de ser cuidado. Lavado diariamente, mimado, tocado, precisa de alimento, de nutrição, de muita água.


Precisa de ser escutado, de repousar quando nos diz "repousa". Se o nosso corpo nos diz "dorme" devemos dormir (dentro de limites pois dormir em excesso pode ser sinal de depressão, desvitalização...e necessita ser acompanhado). Se o corpo nos diz "anda", devemos andar, se o corpo nos diz "corre" devemos correr.


Há uma sabedoria no corpo que devemos saber receber.

O corpo está perplexo nestes tempos de correria desenfreada nas grandes cidades e com as vidas de autómatos que escolhemos para nós. Sim, escolhemos. Pois as vidas que temos são (quase sempre) as que escolhemos. Podemos ter sentido pressões para elas de mil tipos mas, em última instância, é uma escolha. É menos verdade o que digo para pessoas que vivem com muito pouco. Mas sim, podes, escolher outra vida em que respeites os teus ritmos. Podes. Podes não acreditar mas podes.


Pergunto-te então, o que diz o teu corpo? Que sintomas e doenças expressa o teu corpo com base em vivências emocionais, em feridas não curadas, nos pedaços de vida em que te esqueceste de ti, em padrões familiares não curados que passaram de geração em geração? Falar-me-ás de doenças que não envolvem o emocional. E que apenas nas ditas psicossomáticas isso é assim. Não acredito. Somos um todo. Emocional, físico, energético.

Não entres no medo com o que te digo. Ganha consciência. Reflete. Medita. Escuta-te.


Não entregues o teu corpo facilmente a homens e a mulheres que o não amem por não te amarem.

O que são esses dates que se tornaram norma em que dois corpos (ou mais que dois) se cruzam sem que se saiba o nome do ser de que são corpo? Descargas de energia avulsas, prazeres tão curtos ou, se mais prolongados e intensos, o que deles fica depois deles?

Diz-me, então, que vazios e que abismos procuras nessas trocas? O que deixas de ti e o que levas do outro que não te pertence? Ou contigo os dates funcionam, és feliz e vives em equilíbrio e nada mais direi.


Então, como faço se não estou numa relação? Abraça-te, abraça quem amas, toca os corpos que as tuas circunstâncias te dão e que amas. O dos teus filhos quando pequenos, o dos teus netos se assim sentires esse chamado e a conexão, o teu corpo! O teu corpo que quer ser por ti amado. O teu corpo que grita por ti e que ignoras. Ignoras porque é feio tocar o corpo. Assim te ensinaram. Ignoras porque és muito espiritual e para ti as coisas são assim: ou se é espiritualmente evoluído ou se cede aos desejos do corpo. Ou integras uma religião em que o corpo e o diabo são temas que se tocam...

Ignoras porque são séculos e séculos de ensinamentos sobre o pecado.


O corpo é sempre aquele território com memórias duras. Uma mãe que nos batia, ou um pai ou ambos. Na minha geração era comum. Ter sido batido/a recorrentemente por um progenitor é profundamente traumático. Dirás, "mas era comum nas gerações dos que hoje têm 80, 70, 60, 50". E eu direi: "Ser comum não faz com que deixe de ser traumático".


Se o ser que mais amas te espanca, que construção fazes do amor? Se o amor for dor para ti criança, se te amarem em adulto sem dor não reconhecerás esse amor como amor, com todas as implicações que isso terá na tua vida. Poderás ter a sorte de alguém te vir a amar de outra forma e de desconstruires, a pouco e pouco, essa crença. Ou poderás nunca a desconstruir e envolveres-te toda a vida com homens e mulheres que prosseguem o massacre não necessariamente no teu corpo mas na tua mente. Violentando, manipulando, fazendo-te sentir humilhação ou dor ou que não tens valor e que não mereces mais. Atrairás energeticamente os narcísicos, os manipuladores, os detentores de traços sádicos ou mesmo perfis mais graves.


Atenção, pois, ao corpo. Não invistas a tua vida na imagem social dele pois o que te traz a imagem social? Se gastares horas e horas de vida a concretizar o tão ensinado, cultuado nas redes sociais e nos media....se graças a todos os teus esforços, artefactos, roupas, gestos, caras e carinhas... te acharem uma beleza....diz-me depois o que fica disso.


Reflete, escreve no teu diário pessoal.


Se sentires podes partilhar comigo via joanamiranda.treewindbee@gmail.com (colocando em "assunto": corpo) a forma como tens vivido o teu corpo as tuas experiências com o corpo. Ler-te-ei com carinho e sempre respondo.















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